Arte, ensino, utopia e revolução | Jair Diniz Miguel
A Modernidade é a transitoriedade,
a fugacidade, a contingência, a metade
da arte, em que a outra metade é a
eternidade e a imanência…
Charles Baudelaire
O estudo de períodos de transformações agudas, como épocas revolucionárias, requer focos que, muitas vezes, podem reduzir o alcance da pesquisa. Na área de história da arte, não é diferente. Os eventos que formaram a Revolução Russa são de grande interesse para os estudiosos da modernidade, tanto em termos críticos como apologéticos. Esse momento acabou por influenciar grande parte do que se fez posteriormente no século XX em diversos países, nas mais diversas áreas, marcando um contexto diferenciado de se ver e compreender o mundo.
A Revolução Russa de 1917 – melhor dizendo, as revoluções – estava imbuída de sentidos contraditórios e não totalmente desenvolvidos. Não era possível a compreensão total dos fenômenos sociais e culturais, por exemplo. A organização da sociedade e de suas facetas foi buscada através de modelos que pudessem ser diferenciados daqueles existentes na Rússia de então. Em pouco menos de vinte anos (1900 até 1917), o país atravessou diversas crises políticas e o Estado tsarista amargou um declínio cada vez maior até sua desaparição. Essa convulsão foi sentida em todas as áreas. A radicalidade estética russa pode ser vista também do ponto de vista político como a busca por mudanças dentro de um sistema já desprovido de flexibilidade e capacidade de adaptação. O campo cultural (incluindo a Arte) tornou-se uma área de conflitos entre o moderno e a tradição, que teve como consequência a transformação da arte russa em laboratório de testes de novas formas e valores artísticos de alcance muito maior que em outras partes da Europa
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